domingo, 14 de fevereiro de 2010

Penélope


Penélope,
há muito que não te vejo, nem sei de ti... Separam-nos as fronteiras do tempo. Anos passaram. Tróia! Sempre Tróia! Esta dura guerra parece não querer terminar e a verdade é que a minha impaciência tende a aumentar. Voltarei a ver a cor do teu olhar?.. E Ítaca? Voltarei a pisar a minha pátria? Olho o mar... Afaga-me a brisa ardente e consome-me a dor da distância.

[...]

É noite. Volto a contemplar o mar. Aquiles e os seus homens preparam-se para repousar. Devia fazer o mesmo, mas falta-me o sono. Faltas tu! A ideia de poder não regressar a casa aterroriza o meu espírito já tão pouco crente. Desanimado eu? Talvez.
As horas vão passando... Não tarda, o sol voltará a colorir o dia, afastando a escuridão da noite. Continuo sem sono. Não sou o único. Agamémnon também está de pé. Caminha de um lado para o outro na esperança da chegada de Hipnos.

[...]

Abraça-nos já a aurora de dedos róseos. É o anúncio de mais um dia. Tenho de ir. Aguarda-me a árdua tarefa de lutar contra os senhores de Tróia. Tróia!.. Sempre Tróia!..


Cassandra, Abril de 2009/ Quadro: "Penelope and her suitors", John William Waterhouse (1906)

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