domingo, 17 de janeiro de 2010



Da janela que dá para a rua, reflicto-te.
O teu corpo, o teu gesto.
As tuas mãos encostam-se às minhas.
O teu rosto cola-se ao meu.
Incendeias-me com o teu suspiro.
Agrada-me o teu odor...
Entregues ao prazer, consomes-me ardentemente.
[...]
Destruídos os nossos desejos,
procuramos a realidade que nos circunda.
Que é dela?
Que é de nós?
Cassandra [Maio, 2009]

terça-feira, 5 de janeiro de 2010

Sabes eu também

"Estava difícil combinar um café
mas desta vez lá foi.
Talvez possamos falar do que já lá vai
que às vezes ainda dói
da coragem esquecida que já se perdeu
quem deixou por dizer foste tu ou fui eu
da lembrança guardada num canto qualquer
da palavra apagada por não se entender
e dizer-te num gesto mais enternecido
sabes, eu também ando um pouco perdido.

Vou preparar-te um jantar, com certeza
vou ser original
e vou escolher-te um bom vinho, tu sabes
nunca me saí mal
vou falar-te das voltas que a vida trocou

das verdades que o tempo já entrelaçou
entre sonhos queimados, lançados ao vento
entre a cor de um sorriso
e o tom de um lamento
e dizer-te de um sopro, empurrado pela sorte
sabes, eu também ando um bocado sem norte

Olha, não fiz sobremesa
deixa lá, fica para a outra vez
vamos deixar mais um copo a falar
dos quês e dos porquês
Uma história que nos apeteça lembrar
um episódio que nunca nos deu p'ra contar
em segredo guardado pelo cair do pano
um encontro marcado no cais de um engano
e dizer-te na hora em que a voz fraquejar
sabes, eu também... me apetece chorar


E vou chamar um táxi, é hora p'ra te levar a casa
era suposto um de nós nesta altura ficar com a alma em brasa
mas a vida é assim, não aconteceu
pouco importa dizer foste tu ou fui eu
o que importa é o abraço que estava por dar
há-de haver uma próxima e mais um jantar
e dizer-te a sorrir "já passa das três, dorme bem"
Quem sabe? Um dia, talvez..."

Sebastião Antunes



[O texto é da autoria de Sebastião Antunes. Mas, esta é a história de todos nós…!]